segunda-feira, 1 de julho de 2013

O último contato


Aquele seria o nosso último contato.
Ao entrar naquela sala branca,
Senti que a paz era perturbadora.

Foi exatamente naquele momento,
Que percebi que não tinha mais volta.
Ela saiu de cena tão de repente

Hoje eu acordei com tanta saudade,
Que resolvi mergulhar nas lembranças.
E, assim quem sabe, manter a sanidade.

O corpo




Insistia em ser tratado como mascote
A falta de amor era evidente
Foram anos de açoites e boicotes
Corpo degradado, porém resistente

Foram anos de fast-food
Uma vida inconsequente
A morte era eminente
Corpo ultrajado, porém sobrevivente.

É duro se livrar de determinados vícios
Um corpo que sempre gritou por liberdade
Mas, que preferia ser dócil e vazio,
Corpo forte, porém dado à cordialidade.

Os vícios pertencem à alma
São forjados pelo corpo
Amparados nos hábitos.

Junto e misturado


Negros na alma
Filhos da diáspora
A Oxalá pede-se calma
Mesmo, a vida sendo áspera.
A igualdade é uma utopia
Juntos e misturados é a fantasia
Daqueles que elegem a folia

Caminhando irmanados
Em uma única direção
Seguimos de braços dados
Asfixiados pela ilusão

Indiferença


A indiferença já não me assusta mais
Perdi o medo de ser deixado pra trás
Sou fruto da solidão, exilado pelo tormento.
Caminhando na contramão, acolhido pelo tempo.

A indiferença já não me assusta mais
Há tempos abandonei os desejos de criança,
Os sonhos foram todos corroídos,
Desilusões trazidas da infância.

A indiferença já não me assusta mais
Já não tenho mais medo da dor,
Já não tenho mais medo do amor,
Até hoje, não descobri quem eu sou.

A indiferença já não me assusta mais
É melhor é deixar tudo no seu devido lugar.
Não existem mais motivos pra existir,
Não existem mais motivos pra tentar

A indiferença já não me assusta mais
Aprendi a conviver com a impossibilidade
Ao olhar pra pirâmide, descobri a imobilidade
Uma vida condenada à invisibilidade

Carnavalizar


Vamos compartilhar da alegria de Momo
Descobrir o que realmente somos
É hora de colocarmos o bloco na rua
O tempo passa, a vida é curta.

É mulher virando homem
É homem virando mulher
São tantas alternativas
Que fica difícil escolher uma sequer
Mas, será que é preciso escolher?

Seja bem vindo, Carnaval!
Até quarta-feira alegria é geral
De braços abertos para o plural
Ewoé, Momo!

Carnaval sem cor



A saudade bateu no coração
Revelando quanto sinto a sua falta
Vejo-me tomado pela emoção
Estou ansioso pela sua volta

Percebo que na sua ausência
O coração bate descompassado
Navego pelo mar da carência
Acabo revisitando o passado

O enredo desse samba é a tristeza
Alegorias que retratam a falência
Do amor já não tenho mais certeza
A bateria toca sem cadência

Sinto falta da sua alegria
O que seria da vida sem amor?
A noite se confundiria com o dia
O carnaval ficaria sem cor