quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Retalhos



Foi inevitável o rompimento
Término era iminente
Foram anos de pura cegueira
E tudo aconteceu de repente,

Me lembro como se fosse hoje,
Ela chegou cheia de ímpeto,
Sua boca era quente
Eu era apenas um menino

Não quero brigas e nem as intrigas,
Talvez a gente se encontre,
Na próxima esquina,
Doeu demais, ver a sua partida,

Foi muito triste a hora da despedida,
Nos encontramos encurralados e sem saída.
E assim ela se foi, levada pela vida.

sábado, 20 de outubro de 2012

Natimorto




O negrinho foi morto subindo o morro
Para o estado mais um estorvo
Já veio ao mundo natimorto
Morreu de calor, morreu de desgosto.

O negrinho morreu indo para casa
Indo ao encontro da Pretinha
Iria beijar a criançada
Teve a casa invadida, teve a vida tirada.

O negrinho morreu por que não a foi escola
Lá não é lugar de Negro
Seu lugar é pedindo esmola
Vivendo da piedade daquele que lhe esfola

O negrinho morreu de solidão
Mais um filho sem pai
Mais um filho da exclusão
Passando fome, morreu de inanição.

sábado, 13 de outubro de 2012

Estrangeiro


Sinto falta de alguém
Que fale a minha língua
Que acolha meus anseios
Que entenda os meus medos

Onde estão os amigos?
Por onde andam os amores?
Desilusão noite e dia
Ninguém para mandar flores

Sinto-me um estrangeiro
Vindo de um lugar bem distante
Em busca de pertencimento
A procura de um alento

Meu passaporte não tem destino,
Nesse mundo sem fronteiras.
Sou apenas mais um cidadão,
Faço parte dessa comunidade,
Oriunda do país da solidão.

sábado, 6 de outubro de 2012

Bala perdida



Mais um negrinho
Que morre por engano
Morreu de fogo amigo
Mais um perdido no caos urbano

Perdemos os nossos pares
Dormindo dentro dos seus lares
Será que descansarão em paz,
Quando respirarem novos ares?

Mais um negrinho que morre por engano
Terá sido a polícia? Talvez!
Ou será que foi o bandido? Não sei!
Afinal, eles fazem parte do mesmo bando.

É mais um número para estatística
Mais um dentre os dezoito milhões
Que morrem por ano
Pra que tanto esforço?
Pra que tanto plano?

Seu destino está decidido
Certamente mofando em alguma cela
Certamente enterrado
No fundo de algum poço
Pobre do Negrinho
Que por engano foi morto 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A historia da minha vida



A historia da minha vida
Será contada em versos
Todas as minhas alegrias
Todos os meus mistérios

No Nordeste serão cantados
Os mais lindos ABC’s
Dizendo como eu vivi
O que eu fiz para sobreviver

No Sudeste serei cantado
Em versos de Samba
Em quantas rodas eu versei
Serei lembrando como Bamba

Farei parte de contos e epopeias
A história minha vida
Será a mais triste das tragédias
Mas, eu também serei o bufão.
O protagonista das minhas comédias

Certamente terá um tom visceral
Entrarei em contato com a minha dor
A história da minha vida
Será contada em lindos versos de amor.