Beijos, Pai

Sem ter muito o que dizer

Acho até que perdi o jeito

Meio perdido sem ter o que fazer

A dor já não aperta mais o peito

 

Você resolveu ir embora

Abriu mão do seu viver

Saiu pelo mundo a fora

Antes mesmo de entender

 

Você habita a minha memória

O que foi que o mundo te prometeu?

No alto da sua história

A espera do que não aconteceu

 

O capital que te devora

É o mesmo que te abraça

Quem sabe faz a hora

Até sentado no banco da praça

 

Por que você foi embora?

Nem comigo você falou.

Te encontro qualquer hora,

você é parte do que eu sou.

Seguir em frente

Nem rápido e nem devagar

Vivo ao sabor do tempo

Não estou deixando a vida me levar

Apenas vivendo o momento

Ninguém tem culpa de nada

Escolhas ruins fazem parte da jornada

Flores e espinhos pavimentam a estrada

Chega de chorar pelos cantos

Remoer dores e buscar acalantos

O mundo não é feito de santos

Andar olhando para trás

Ao mesmo tempo seguir em frente

A impossibilidade de apagar a passado

A oportunidade de construir o presentente

Passa aos poucos

A passagem de tempo

Foi melhor que a encomenda

Tempos de paz e reflexão

Sem dores e contendas

 

Nunca imaginei que iria passar

Assim por você

de relance, meio blasé

“Quem sabe não bem melhor assim?

Melhor pra você e melhor pra mim”

 

Stan Getz no Sax

João Gilberto no violão

Uma dose de amor

Misturada com solidão

Fim

Metade de mim é carnaval

A outra metade é solidão

Metade de mim tá destruída 

A outra metade em reconstrução 

Metade de mim quer o silêncio

A outra metade é explosão

Metade de mim é cachoeira

A outra metade é trovão.

Confronto

 

Foi um golpe de misericórdia

No meio do coração

Não tinha para onde correr

Sem amor e sem perdão

 

Condenados indo para o paredão.

Fuzilamento é o nome de pelotão

Tiros numa única direção

Perdido e sem munição

 

Vou assistir o tempo correr

Amor não é um sentimento pronto

O medo faz você se submeter

É difícil amar em confronto

Sem final feliz

Para o novo vir é preciso romper

Sempre tive medo de perder

Mesmo sem saber como fazer

Foi melhor deixar acontecer

 

Os holofotes todos virados

Pro seu palco ser iluminado

Para o outro deixado de lado

Tudo foi aceito de bom grado

 

Mas, nada na vida é para sempre

Pode ser clichê, mas não é diferente

Talvez a gente se encontre lá na frente

Bom, pensando nisso... depende

 

Acho que foi medo de ser feliz

Mundo descolorido e sem matiz

Realmente, foi preciso dar na raiz

Não sei se existe final feliz

Subjugado

 

Estou de volta ao meu habitat

Como é doce esse regresso

Entendi que deveria me retirar

A dor faz parte de processo

 

Finalmente consegui entender

A neurose sempre esteve instaurada

Estruturas tendem a se proteger

A ordem tinha que ser restaurada

 

O problema nunca esteve na escolha

Nenhuma novidade a principio

Caminhar só pela estrada

É melhor que pular do precipício

 

Chega de ser parte dessa estrutura

O problema nem é não ser amado

Até porque o amor não se subjuga

E não pode ser subjugado